13/10/2014

Arremesse a pedra da informação

Impressões digitais da mídia estão arroladas em arquivos nefastos da história brasileira.

“Nunca houve tanta corrupção neste país” - em 1954, a imprensa, encabeçada por Carlos Lacerda, em campanha “contra a corrupção”, tentava desmoralizar Getúlio Vargas com um discurso moralista. Porém, Lacerda não contava com um contragolpe tão seco e eficaz: o suicídio de Vargas e a sua carta de despedida. Parte dela dizia: “Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida”. A comoção popular pela morte de Getúlio foi a maior já vista na história do país. A sede da Tribuna da Imprensa – jornal de Carlos Lacerda – foi depredada, e a sede do Globo atacada.

“Participamos da Revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada” - editorial do jornalista Roberto Marinho, publicado no jornal O Globo, em 1984. Não é novidade: a imprensa apoiou o golpe militar de 1964 sob o pretexto de que um “golpe comunista” estava em curso e nas mãos do Presidente João Goulart. Pregaram a preservação da democracia, condenaram a corrupção e ajudaram a organizar uma ditadura extremamente corrupta.

“Eu achei que a briga do Collor com o Lula nos debates estava desigual porque o Lula era o povo e o Collor era a autoridade. Então nós conseguimos tirar a gravata do Collor, botar um pouco de suor com uma glicerinazinha, colocamos as pastas, todas que estavam ali, com supostas denúncias contra o Lula, mas as pastas estavam inteiramente vazias ou com papéis em branco. Foi uma maneira de melhorar a postura do Collor junto ao expectador pra ficar em pé de igualdade com a popularidade do Lula” - José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, em entrevista à Globo News em 2011, confirmou a total parcialidade da emissora nas eleições de 1989 e ainda admitiu que arquitetou denúncias falsas para atingir a reputação de Lula. (Vídeo da entrevista: http://www.youtube.com/watch?v=VrpurEkmJkU).

Os quatro anos de governo Dilma merecem críticas. A nossa Presidenta afastou-se da luta pelos direitos dos homossexuais, aproximou-se de ruralistas, adiou a conversa sobre a democratização dos meios de comunicação, não combateu a corpulência da polícia diante das manifestações... dentre outros problemas muito relevantes. Mas, o que percebemos nas eleições de 2014 não são críticas fundamentadas. São críticas que nos remetem a 1954, 1964, 1989... Críticas arquitetadas e regurgitadas pela imprensa que sempre defendeu o conservadorismo e as elites. Críticas que visam combater o avanço das políticas sociais. Críticas que visam privilegiar a elite em detrimento do resto. Críticas que privilegiam factoides e transbordam um moralismo repugnante e hipócrita.

A corrupção é um assunto que deve ser discutido, é claro. Mas a corrupção não pertence a um único grupo. A corrupção é fruto do sistema, seja no Brasil, seja em qualquer outro país do mundo. Quem prega a moralidade e não discute a corrupção como um problema enraizado no sistema, visa deturpar a racionalidade e os fatos. O PSDB submerge na lama da corrupção e não possui moral alguma para apontar o dedo. Se o PSDB realmente quisesse "moralizar a política", primeiramente precisaria olhar para o próprio partido e exigir a investigação dos próprios malfeitos.

O que está em disputa nestas eleições é fácil de delinear. Aécio Neves representa o projeto neoliberal e anti-desenvolvimentista. A sua equipe, encabeçada por Armínio Fraga, defende a redução gradativa da inflação, o Banco Central independente, o “tripé macroeconômico”, o ajuste fiscal, o câmbio flutuante... Enfim, defende ações que notoriamente aprofundam as desigualdades sociais.

Para reduzir a inflação, é necessário elevar os juros. Consequentemente, a geração de empregos e a renda do trabalho são afetadas. Não é por acaso que o PSDB critica o método de valorização do salário mínimo utilizado pelos governos Lula/Dilma. Elevar os juros também afeta a dívida pública – afinal, é necessário pagar os juros – o que implica na redução do gasto social. As promessas de campanha de Aécio Neves são incompatíveis com gastos sociais.

Dilma representa uma política que articula, mais eficientemente, políticas econômicas e sociais. Não é “sorte” a melhora do Brasil nos indicadores de distribuição da renda do trabalho, mobilidade social, consumo das famílias e redução da miséria extrema. Como diz o economista Eduardo Fagnani, “de forma inédita, conciliou-se crescimento do PIB (e da renda per capita) com redução da desigualdade social. O Brasil saiu do Mapa da Fome e mais de 50 milhões de “desinformados” (na visão do ex-presidente FHC) deixaram a pobreza extrema”.

A diferença é clara. Cabe a você escolher em quem votar. Cabe a você escolher o lado. Sim, são lados diferentes. Bem diferentes. Um lado representa o projeto desigual, o outro representa o projeto da inclusão. Não se iluda, é esta a disputa. Se você se informou sobre as propostas eleitorais, você sabe o que elas significam. Se o seu voto é no Aécio, defenda as suas políticas, defenda os seus ideais e não se esconda no discurso covarde e sem sentido da corrupção. 

Assuma. Saia da caixa.

Revele-se.

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