Impressões digitais da mídia estão arroladas em arquivos
nefastos da história brasileira.
“Nunca houve tanta
corrupção neste país” - em 1954, a imprensa, encabeçada por Carlos Lacerda, em
campanha “contra a corrupção”, tentava desmoralizar Getúlio Vargas com um
discurso moralista. Porém, Lacerda não contava com um contragolpe tão seco e
eficaz: o suicídio de Vargas e a sua carta de despedida. Parte dela dizia: “Se as aves de rapina querem o sangue de
alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a
minha vida”. A comoção popular pela morte de Getúlio foi a maior já vista na
história do país. A sede da Tribuna da Imprensa – jornal de Carlos Lacerda –
foi depredada, e a sede do Globo atacada.
“Participamos da Revolução de 1964 identificados com os
anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela
radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada” - editorial
do jornalista Roberto Marinho, publicado no jornal O Globo, em 1984. Não é
novidade: a imprensa apoiou o golpe militar de 1964 sob o pretexto de que um “golpe
comunista” estava em curso e nas mãos do Presidente João Goulart. Pregaram a
preservação da democracia, condenaram a corrupção e ajudaram a organizar uma
ditadura extremamente corrupta.
“Eu achei que a briga do Collor com o Lula nos debates
estava desigual porque o Lula era o povo e o Collor era a autoridade. Então nós
conseguimos tirar a gravata do Collor, botar um pouco de suor com uma
glicerinazinha, colocamos as pastas, todas que estavam ali, com supostas
denúncias contra o Lula, mas as pastas estavam inteiramente vazias ou com
papéis em branco. Foi uma maneira de melhorar a postura do Collor junto ao
expectador pra ficar em pé de igualdade com a popularidade do Lula” - José
Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, em entrevista à Globo News em 2011,
confirmou a total parcialidade da emissora nas eleições de 1989 e ainda admitiu
que arquitetou denúncias falsas para atingir a reputação de Lula. (Vídeo da
entrevista: http://www.youtube.com/watch?v=VrpurEkmJkU).
Os quatro anos de governo Dilma merecem críticas. A nossa
Presidenta afastou-se da luta pelos direitos dos homossexuais, aproximou-se de
ruralistas, adiou a conversa sobre a democratização dos meios de comunicação,
não combateu a corpulência da polícia diante das manifestações... dentre outros
problemas muito relevantes. Mas, o que percebemos nas eleições de 2014 não são
críticas fundamentadas. São críticas que nos remetem a 1954, 1964, 1989...
Críticas arquitetadas e regurgitadas pela imprensa que sempre defendeu o
conservadorismo e as elites. Críticas que visam combater o avanço das políticas
sociais. Críticas que visam privilegiar a elite em detrimento do resto.
Críticas que privilegiam factoides e transbordam um moralismo repugnante e
hipócrita.
A corrupção é um assunto que deve ser discutido, é claro. Mas a corrupção
não pertence a um único grupo. A corrupção é fruto do sistema, seja no
Brasil, seja em qualquer outro país do mundo. Quem prega a moralidade e não
discute a corrupção como um problema enraizado no sistema, visa deturpar a
racionalidade e os fatos. O PSDB submerge na lama da corrupção e não possui moral alguma para apontar o dedo. Se o PSDB realmente quisesse "moralizar a
política", primeiramente precisaria olhar para o próprio partido e exigir a
investigação dos próprios malfeitos.
O que está em disputa nestas eleições é fácil de delinear.
Aécio Neves representa o projeto neoliberal e anti-desenvolvimentista. A sua
equipe, encabeçada por Armínio Fraga, defende a
redução gradativa da inflação, o Banco Central independente, o “tripé
macroeconômico”, o ajuste fiscal, o câmbio flutuante... Enfim, defende ações
que notoriamente aprofundam as desigualdades sociais.
Para reduzir a inflação, é
necessário elevar os juros. Consequentemente, a geração de empregos e a renda
do trabalho são afetadas. Não é por acaso que o PSDB critica o método de
valorização do salário mínimo utilizado pelos governos Lula/Dilma. Elevar os
juros também afeta a dívida pública – afinal, é necessário pagar os juros – o que
implica na redução do gasto social. As promessas de campanha de Aécio Neves são
incompatíveis com gastos sociais.
Dilma representa uma política
que articula, mais eficientemente, políticas econômicas e sociais. Não é “sorte”
a melhora do Brasil nos indicadores de distribuição da renda do trabalho,
mobilidade social, consumo das famílias e redução da miséria extrema. Como diz
o economista Eduardo Fagnani, “de forma inédita, conciliou-se
crescimento do PIB (e da renda per capita) com redução da desigualdade social.
O Brasil saiu do Mapa da Fome e mais de 50 milhões de “desinformados” (na visão
do ex-presidente FHC) deixaram a pobreza extrema”.
A diferença é clara. Cabe a
você escolher em quem votar. Cabe a você escolher o lado. Sim, são lados
diferentes. Bem diferentes. Um lado representa o projeto desigual, o outro
representa o projeto da inclusão. Não se iluda, é esta a disputa. Se você se
informou sobre as propostas eleitorais, você sabe o que elas significam. Se o
seu voto é no Aécio, defenda as suas políticas, defenda os seus ideais e não se
esconda no discurso covarde e sem sentido da corrupção.
Assuma. Saia da caixa.
Revele-se.
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