29/11/2010

A ditadura do capital

Era final de dezembro e o mundo que imaginava e via como real, desabou.

Aos sete anos percebi, pela primeira vez, o quanto uma mentira pode tornar-se real se a sociedade a propagar. Senti-me manipulada e órfã do “bom velhinho”.

Incredulidade. Decepção. Não porque sentiria falta dos presentes, afinal, meus pais encarregavam-se daquela tarefa. Mas porque o senhor que vivia no Pólo Norte, que vi no Shopping Center, todo pomposo, bochechas rosadas, que minha mãe contou ser real e que meu pai contou ser real, simplesmente, não existia!

Nós somos frutos do meio. Não nascemos ruins. Não nascemos bons. Nascemos, e a sociedade nos molda da forma como ela quer.

Confiamos naquilo que é imposto. Acreditamos que vivemos em uma sociedade evoluída.

A tecnologia, sim, evolui. Mas e a sociedade?

Passa século, entra século, o que vemos é a mesma sociedade movida ao lucro.

Passa século, entra século, o que vemos é a mesma sociedade movida ao capital.

Passa século, entra século, o que vemos é a mesma sociedade movida às desigualdades sociais.

A pirâmide sempre lá. Intacta. Onde estão os seres evoluídos? Não deveriam acabar com a fome? Afinal, como uma sociedade evoluída deixa a maioria dos seus indivíduos na miséria?

Os poderosos, donos do capital, não deixam a sociedade evoluir. Somos moldados, somos escravos daqueles que manipulam nosso pensar.

Até quando acreditaremos que vivemos em democracia, enquanto a mídia, que possui total poder de manipulação, é movimentada por interesse de poucos, donos de maior poder aquisitivo?

O dinheiro - mecanismo arcaico, inventado no século VII a.C - dita as regras. Onde está, mesmo, a evolução?

A sociedade sempre considerou o elitismo, o lucro e a desigualdade como normais. Há séculos o conceito não muda. A sociedade continua estática em suas idéias.

O capitalismo e qualquer outro sistema, já implantados, são falhos. O motivo: são movidos pelo dinheiro.

Um sistema movido a capital não se interessa pelo bem-estar do indivíduo. Interessa, apenas, pelo lucro, que desencadeia uma competição corrupta - os donos de empresas alastram propagandas com o intuito de lucrar e, portanto, o conteúdo das mesmas, na quase totalidade das vezes, não é real - e guerras.

A abundância é inimiga do lucro, uma vez que a escassez mantém o produto valioso. Se, por exemplo, aparecesse ouro em todos os lugares, ele seria completamente desvalorizado. A pobreza, logo, é companheira do sistema e garante poder à minoria.

A eficiência também é prejudicada. As empresas ganham com a venda de seus produtos e, então, não se interessam em criar produtos duráveis, eficientes. Querem sempre criar novos produtos. A tecnologia, portanto, não é desenvolvida de forma ideal.

Por fim, o dinheiro desencadeia a corrupção.

A minoria quer a continuidade desse sistema e, como detém o poder, ou seja, o capital, manipula, de todas as formas, a maioria.

A maioria não tem o que comer. Não tem onde morar. A maioria sobrevive, apenas.

Onde está a evolução? Entra ano, passa ano, entra século, passa século, a sociedade é a mesma. Injusta. Hipócrita. Manipulada.

O dinheiro, a cada dia, é multiplicado pelos bancos. É fictício. E a inflação é o produto da ficção.

Perante esta sociedade doente, somos meras crianças de sete anos. Acreditamos que o capitalismo é um sistema justo e, como a sociedade, permanecemos involuídos e doentes.

Vendados, enxergando absurdos, não fazemos nada.

Afinal, enquanto lambuzamos os beiços diante do banquete diário, assistimos a um documentário sobre a miséria no Brasil e no mundo. A foto de uma criança faminta e esquelética aparece. A comoção é geral. Comentamos nossa “tristeza” e, inertes, abocanhamos o filé mignon mal passado.

4 comentários:

José Mateus disse...

isquila, gostei muito. Adorei na verdade, fico emocionado, c sabe! Ontem li pro pessoal aki, todo mundo adorou. Bjuisis

Ester Alves disse...

Fabiana são pessoas como você que ainda me dão alguma esperança. Pensam socialmente, dentro do seu âmbito dão pequenos passos, eu acredito nessa guerra do bem para mudar essa realidade cruel.
Parabéns pelo seu texto.
Abraços.
Ester.

Anônimo disse...

Posso lhe indicar duas excelentes obras que me lembrei lendo seu texto:

1 - "A História da Riqueza do Homem" de Leo Huberman. Texto fundamental

2 - "A história das coisas", um documentário estupendo que você encontra no youtube com legendas.

Sim, este sistema é insano. E nos move a colobarar, seja na compra de uma casa a uma mentirinha sobre presentes no Natal.

Se seu símbolo é mesmo o 'bom velhinho', é um sistema que tem mesmo de ser combatido.

Já cheguei a ser radical contra o consumo, depois passei a estar resignado achando que o sistema era mesmo auto-suficiente. Mas quanto mais leio sobre o assunto mais vejo que isso aqui não tem jeito.

O Wikileaks é um exemplo da ganância que há no Império. E o texto de Huberman compara o homem capitalista aos macacos que eram capturados na Índia: Colocavam torrôes de açucar dentro de pequenos cocôs. Se os macacos pegassem só um sua mão sairia numa boa. Se pegassem mais de um ficavam presos e era capturados.

Eles nunca pensam em pegar somente um...

Lucas disse...

Meus parabéns pelas reflexões que você vem escrevendo, são ousadas e são críticas existenciais revelevantes para um mundo que apodrece sob os gendarmes do capital monopolista e seu imperialismo transnacional.

Continue este ótimo trabalho!

Um grande abraço e saudações socialistas atleticanas!